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historiadoresHistoriadores defenderam que há espaço para novas formas de contar o passado em Moçambique, apontando o acesso ao arquivo da FRELIMO, e mais pesquisa como condições para o desenvolvimento desta área. "Pelo contexto da liberdade que se está criar, há espaço para novas formas de contar a História", disse o historiador e director do Arquivo Histórico de Moçambique, Joel das Neves Tembe, falando à margem da 1.ª Oficina de História de Moçambique, organizada por um grupo de estudantes das universidades Eduardo Mondlane (UEM) e Pedagógica (UP). Admitindo a existência de uma "carga ideológica" na forma como é contada a História de Moçambique, Joel das Neves Tembe entende, no entanto, que o principal problema desta disciplina no país é a falta de iniciativas de pesquisas vindas dos próprios historiadores, considerando que, à medida que o estigma vai desaparecendo no seio da sociedade, devido ao novo contexto multipartidário adoptado, as fontes vão-se libertando.

«O nosso país ainda é muito novo, com apenas 40 anos, e as coisas ainda estão a aparecer, mas é preciso que haja mais pesquisas", salientou Tembe, acrescentado que é importante que os arquivos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), movimento que encetou a luta pela independência do país e no poder desde 1975, sejam de acesso público. Mas, antes de serem abertas, as fontes devem ser trabalhadas por especialistas e intérpretes, alertou. "Por detrás do Estado, há uma ideologia e não estou a ver qual é o país que não tem isso", defendeu o historiador moçambicano, apontando a autocensura como um obstáculo ainda por vencer no processo. Por outro lado, a história da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) não é contada pela própria Renamo, quem conta a história do maior partido da oposição em Moçambique são "os outros". É importante que a RENAMO disponibilize as suas fontes.
Por sua vez, Carlos Quembo, professor de Economia Política da África Austral na UEM, disse à Lusa que a estrutura política e económica nos primeiros anos de independência influenciou a forma como o passado foi contado, acrescentando, no entanto, que a história oficial que existe não é necessariamente falsa. "A história oficial tem de ser percebida como uma interpretação e há espaço para que haja outras interpretações", observou o historiador moçambicano, acrescentando que a investigação é um processo contínuo e permanente.
Abubacar León, professor e investigador da York University, do Canadá, apontou a falta de sentido crítico nos estudantes como a primeira consequência de um país que conta sua História de forma unilateral, considerando que é preciso abrir espaço para o cruzamento de diferentes tradições historiográficas, como forma de actualizar constantemente o conhecimento do passado.   "Diferentes posições e correntes de pensamento podem contribuir para a melhoria da forma como é contada a História de Moçambique", defendeu o professor de História de África na York University, que aponta o Arquivo Histórico de Moçambique como um dos mais importantes da África subsaariana. "Moçambique tem documentos raros na região", salientou Abubacar León, sublinhando que há muito interesse de pesquisadores internacionais pelo país, destacando a importância de iniciativas similares.
Subordinada ao tema "Como fazer Investigação Histórica em Moçambique? Pesquisas, Metodologias e Recomendações Práticas", a primeira oficina de história no país, organizada com o apoio do Arquivo Histórico Moçambique, reuniu no dia 30 de Outubro, historiadores, professores e estudantes na sala de leitura do AHM, um projecto cujo principal objectivo é a partilha de pesquisas nas diversas áreas de conhecimento científico. (Título e algumas alterações pontuais da responsabilidade do BIArquivo, Extraído da RDP África).